--- O desafío da permanência dos alunos do ensino superior no Brasil ---
Apresentado no Brasil como o "guru" do ensino de Tecnologia da Informação, o indiano C. Swaminathan está há 38 anos na PSG College of Technology, onde atualmente é diretor. A instituição que chefia está entre as top ten do país na área conhecida por TI, grande responsável por uma explosão econômica e tecnológica na Índia que impressiona até os Estados Unidos - só nesse setor, o crescimento anual indiano chega a 30%. Tanto é que empresas de todo o mundo buscam parcerias de desenvolvimento de software com companhias e universidades indianas. Para ficar apenas no caso da PSG, seus alunos são recrutados por companhias como Google, Microsoft, Motorola, Intel e a gigante indiana TCS (Tata Consultancy Services), entre outras dezenas que visitam o campus anualmente em busca de talentos ainda em formação.
Hoje, a Índia coloca no mercado de TI 200 mil novos profissionais por ano, enquanto as instituições brasileiras formam cerca de 15 mil. Na opinião de Swaminathan, é primordial que as crianças comecem a aprender inglês no jardim-de-infância e que o governo deveria pressionar os bancos para conceder crédito estudantil.
Ensino Superior - Como a Índia conseguiu revolucionar a educação, especialmente na área de tecnologia?
O governo da Índia não interfere na participação privada no sistema educacional. Então, instituições privadas, professores e a indústria de Tecnologia da Informação (TI) passaram a colaborar fortemente uns com os outros, começaram a ensinar o que eles gostariam de obter dos estudantes de graduação e colocaram para funcionar imediatamente. Mas isso aconteceu não só devido a essa iniciativa. Os salários da indústria e dos serviços de TI são muito maiores do que os do setor de manufaturados. E os estudantes preferem se sentar em frente a computadores, no ar-condicionado, a estar num chão de fábrica, ligar uma máquina, trabalhar numa fornalha, sujar suas mãos. Isso é mais um trabalho físico em detrimento do trabalho mental. Então, os estudantes passaram a ter esse objetivo e todos optaram pela TI, porque os salários são bons, o ambiente de trabalho é bom. Isso vem acontecendo desde 1990.
Gostaria que o governo brasileiro se juntasse à iniciativa privada para ensinar a todo e qualquer estudante a língua inglesa, isso é muito importante. Hoje, se a China não é tão bem-sucedida quanto a Índia é pela simples razão de que os chineses não sabem falar inglês. Agora, a China contratou 800 professores da Inglaterra para ensinar inglês para as crianças. Então, talvez daqui a dez anos os chineses estejam falando inglês.
Ensino Superior - Mas no Brasil os problemas talvez sejam mais profundos do que esse, como o acesso às instituições.
Mesmo que as faculdades sejam caras, você poderia estudar se tivesse um empréstimo. As instituições financeiras deveriam lhe dar um crédito para estudar. Porque quando você estuda, quando você termina sua graduação, você obtém um bom salário. Hoje, sem educação, seu salário será menor, mas, se você consegue acesso à educação, seu salário será maior.
Ensino Superior - O senhor acha que o governo brasileiro deveria incentivar o crédito estudantil?
Na Índia estamos fazendo isso. O governo disse para os bancos: 'Se não derem crédito, vamos tomar medidas contra vocês. Se houver reclamações dos estudantes de que não está havendo crédito, nós tomaremos medidas'.
Ensino Superior - O senhor acredita que o Brasil poderá fazer essa "revolução"?
O futuro é muito bom. Tudo depende de como o governo brasileiro e a academia vão fazer. Porque uma língua para um país é importante, você consegue unir as pessoas. Mas você deveria ensinar inglês para suas crianças desde o jardim-de-infância, cada um deveria, no mínimo, saber duas línguas, até três se possível. Só assim essas pessoas poderão se dar bem em qualquer lugar do mundo. Se você aprende japonês, você consegue um emprego no Japão. Nós estamos tentando ensinar isso aos nossos alunos: você vai conseguir melhores salários se souber japonês. Se você ganha US$ 1 mil na Índia, vai ganhar US$ 3 mil no Japão, apesar de o custo de vida ser também mais caro. Mas, ok, você pode ter um excedente de US$ 1 mil.
Nós estaremos no topo, não tenho dúvida disso. Porque nós estamos na direção certa e estamos sendo bem-sucedidos nisso. Nossa economia está crescendo a 9%, 10% ao ano, é a que mais cresce no mundo, junto com a China. A dos EUA cresce 4%. Definitivamente, a economia está indo bem, as pessoas estão felizes, a indústria vai bem. Mesmo os pobres estão se interessando em educar seus filhos em uma boa instituição.
Ensino Superior - O senhor acha que o Brasil poderia seguir esse caminho?
Deveria. E acredito que deveria fazer isso muito rápido.
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